Quem tem filhos pequenos sabe que uma regra básica é não responder mais do que aquilo que eles efetivamente perguntaram. Para evitar que ele pergunte sobre sexo, você desfie todo o rosário das abelhinhas, e depois ele venha dizer que achou que sexo era feminino e masculino. Você fica com cara de bobo porque respondeu mais do que ele pediu e provavelmente deu mais informação do que ele precisava.
Sempre que não estou dando aulas e tenho as noites livres, fico encarregado do banho do Gabriel, meu filho de 5 anos. E normalmente é uma aventura. Resumo do banho de ontem:
- pai, minhas bolinhas estão aqui no meu saco.
- ahn, err..., as minhas também filho.
- sabe o que tem aqui dentro?
- não filho, não sei. O que é?
Dez segundos de silencio. Na ótica dele. Na minha, foram bem uns 15 minutos.
- tem pessoinhas pequenas, iguais a mim, esbarrando que nem carrinho de choque.
Fiquei feliz de que naquele momento eu estava no banho, nu, e sem carteira. Porque se estivesse com minha carteira teria dado imediatamente todo o dinheiro para ele comprar qualquer coisa e desaparecer dali.
- pessoinhas, gabo?
- é, pessoinhas iguais a mim, que depois vão nascer e ficar parecidas comigo.
Tentei reverter a situação, fazendo algum comentário inteligente, afinal, eu era o pai. E ele tinha só cinco anos, não podia ficar por cima. Imagina quando ficar mais velho, e começar a querer mostrar que é mais inteligente. Com 7, por exemplo
- É, eu também tenho pessoinhas parecidas comigo aqui, tanto que você é uma, que nasceu bem parecido comigo.
Pela cara de espanto que ele fez, acho que ainda não tinha ligado os pontos. Aquilo foi como mostrar para ele o terceiro segredo de Fátima. Me apavorei, tinha quebrado uma regra básica: respondi mais do que ele perguntou. Mas mantive a calma
Naquela situação, eu já estava pensando em cancelar a tv a cabo, a Internet, tirar ele do colégio, e viver como amish em Iowa, mas ele não teve misericórdia:
- Mas isto não é para esta fase, só para a próxima.
- qual próxima fase?
- adolescência, pai.
E como eu estivesse parecendo que tinha visto um ET, completou:
- Adolescência, quando a gente usa brinco.
Sai do banheiro molhado mesmo e chamei a mãe dele para acabar o banho.Me encontraram depois, na sala, com um copo de whisky na mão, e ainda enrolado na toalha.
escrito originalmente em 31/07/2008.
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