quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aquela do seguro errado

Esta não é mais uma história para rir, mesmo porque acho que já perdi minha verve artística, se é que já tive uma. Só o que fiz até então foi retratar episódios interessantes (e obviamente engraçados) que ocorrem comigo vez por outra.
Desta vez aproveitei o início de ano, período de aparente calmaria, para colocar em dia algumas coisas. Comecei pelo carro.
Quero ressaltar desde já que não sou maníaco por carros, como tantos por aí. Não chego a absurdos, como lavar eu mesmo, por exemplo. Só mando lavar mesmo quando identifico alguma cultura estranha pelos cantos. O carro existe para me servir, e não eu para servi-lo.
Conheci um cara que após lavar o carro, engraxava as partes pretas do motor, com graxa de sapatos mesmo. Imagino a turma no bar, falando sobre filmes que viu, livros que leu, e o cara lá, quietão. Daí quando chega a vez dele, ele enche o peito e dispara: "mas vocês tem que ver o brilho da tampa do meu filtro de ar". E da reação da turma dá para tirar um tratado sociológico.
Mas voltando ao caso do carro, comecei pelo seguro. Sempre confiei nos meus corretores, e já passei mal algumas vezes por isto, mas eu não aprendo. Fui ler a apólice, já imaginando quem é que ainda faz uma coisa destas hoje em dia, e me deparei com coisas de cair o queixo. Segue abaixo síntese da carta que enviei a companhia seguradora:


Prezados senhores,

Ao revisar minha apólice de seguros referente ao meu veículo Santana, surpreendi-me com alguns fatos que não condizem com a realidade e que gostaria de ver corrigidos com a maior urgência.
1.- o número do chassis está incorreto. De acordo com os documentos emitidos pelo órgão competente, o número é 9BWZZZ237... e não 9BWZZZ327... Um simples erro de digitação, trocando o 23 pelo 32, mas que creio iria me atrapalhar muito em caso de sinistro. Com todos estes casos de adulteração de chassis que existem por aí, não quero que confundam logo o meu com um cabrito. (análise semântica sobre o uso da palavra "cabrito" para designar veículos montados em chassis que não o seu próprio, em carta anexa)
2.- Da mesma forma, o número do Renavam não condiz com o descrito no DUT. Favor corrigir de 3228... para 3328. Novamente um pequeno erro de seu não tão atento digitador.
3.- O veículo não permanece durante o dia em estacionamento coberto, mas sim somente à noite. Olha o digitador aí de novo.
4.- O endereço de minha residência não é rua XV de Novembro 123, sala 1933. Não está nos meus planos residir numa sala, quanto mais num edifício comercial no centro de Blumenau. Aliás, se repararem bem, este é o SEU endereço. Com certeza não estou desconfiando que Vs. Sas. tenham colocado vosso endereço para receber indenização que se destinaria à minha família, no caso de eventual sinistro, mas creio que o digitador já referido nos itens anteriores deveria, no mínimo, perder o bônus de final de ano.
5.- O veículo em questão é preto, e não branco, conforme consta em vossa apólice. E aí vai um comentário muito grave. Pois agora ou colocamos o digitador num tronco em praça pública e lhe aplicamos o devido corretivo, ou incluímos na análise o vistoriador, condição esta que talvez até mesmo isente de culpa nosso amigo digitador, este injustiçado.
Quando me preparava para escrever o item 6, já transformando a carta num tratado, me deparei com um fato. Sempre tive ótima memória para números e combinações entre números e letras, e assim que comprei o carro, decorei a placa facilmente. As letras eram LYI. I e Y são letras que compõe meu nome, então ficava fácil. Um dia, ao entrar em um estacionamento, o atendente me pergunta a placa e eu repeti o LYI alguma coisa. Ao estacionar o carro, o rapaz me seguiu e me entregou outro ticket, dizendo que a placa na verdade era LYT. Juro que desci do carro para ver. Afinal, estava perdendo uma de minhas únicas qualidades, além daquela de torcer pelo Palmeiras.
Pois agora, na apólice da companhia, voltava o LYI. Fui rápido conferir o documento, e desta vez a seguradora estava correta. Era LYI mesmo. O que me trouxe um problema muito maior, afinal, estava andando com a placa errada.
Dirigi-me a empresa que confeccionou a placa, disse que sempre houvera sido (hein, hein?) cliente deles, e pedi para que conferissem a data da confecção da placa, onde certamente identificariam o erro.
Setembro de 2003. Há 2 anos e meio venho andando com a placa errada. Não há careca respeitável (como a minha) que justifique isto numa blitz.
Correções feitas, placa nova, documentos ok, apólice corrigida, desfilo agora pelas ruas com disposição redobrada para enfrentar os guardas. Quando pressinto a presença de alguma blitz, chego até a mudar de rua, me esforçando para ser parado. Dias desses, abri a janela e cheguei a perguntar para o guarda: “o sr. me mandou parar?” Recebi de resposta um olhar enviesado e uma ordem para que seguisse. Mas deixe estar. Se, contrariando todas as leis de Murphy, passei estes últimos 2 anos completamente ilegal e nada me aconteceu, há de chegar o dia em que serei intimado a parar e apresentar meus documentos;
E vou estar preparado, ah se vou.

escrito originalmente em 12/09/2004

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