sexta-feira, 24 de julho de 2009

Saindo de casa

O Gabriel deu um pau no Buuuno.
Nada de novo, cá entre nós. E que a Vivi não nos ouça, ele provavelmente mereceu.
Impressionante como este baixinho provoca. O Buuuno, que se apresenta desta maneira porque ainda não sabe falar os R, aproveita a impunidade que a pouca idade lhe dá (falsa, como vimos pelo pau que levou) e provoca tudo o que pode. Chora por qualquer coisa que o Gabriel pense em fazer. E nós, que sempre temos medo que o Gabriel machuque o menorzinho, já chegamos brigando, sem nem ao menos ver o que aconteceu.
Qualquer brinquedo que o Gabo pega, passa imediatamente a ser o foco do seu interesse, e ele chora até ganhar o que quer. Impressionante a manha. Já batemos, colocamos de castigo, privamos de lanches, etc... Chegamos até a pedir. Nada faz efeito.
Desta vez ele pegou um brinquedo que o Gabriel estava usando. O Gabriel até tentou, mas quando viu que não adiantava, usou de diplomacia: levantou o bruno do chão e jogou na parede, do outro lado do quarto. O que ele não imaginava é que o Bruno bateu com o nariz no chão, e sangrou.
Cinco minutos de berreiro depois, eu JÁ fui ver. The flash é meu nome do meio. Cheguei lá e vi a imagem que vai demorar para se apagar: o Bruno no chão, sangrando pelo nariz, poça de sangue no chão, chorando desbragadamente. E o Gabriel colado na parede oposta, branco que nem lençol de hospital.
Peguei o Bruno do chão, acalmei, limpei o sangue, coloquei na frente da TV para descansar, e neste meio tempo reclamei com o Gabriel, dizendo para ele cuidar, não bater no irmão, estas coisas. Internamente achava que o pequenininho tinha merecido apanhar, e que a justiça tinha sido finalmente feita. Mas fiquei firme, mantive minha postura de pai. Minha mulher podia se orgulhar de mim.
Fiquei na sala, acalmando a vítima, e me esqueci do agressor. Cinco minutos depois aparece ele, com a mochila nas costas, dizendo que face o ocorrido tinha resolvido sair de casa.
Me segurei ao máximo para não rir, e disse que não tinha sido tão ruim assim, que entre irmãos estas coisas aconteciam, para ele cuidar porque ele é mais forte que o irmão, etc... Pedi para ver a mochila: tinha um walkman (ultimo brinquedo ganho) e o cofrinho, quase cheio. Nem uma única muda de roupa.
Mais meia hora de sermão explicando que não é assim que se resolvem as coisas, não devemos fugir dos problemas (pelo menos não nesta idade), e que se fosse o caso, deveria pelo menos levar algumas roupas, e uma volta de lingüiça, para o caso de dar fome no caminho. E depois, para onde ele iria?
Ele disse que realmente não tinha para onde ir, e que também preferia não fugir, mas se sentiu amedrontado pelo que tinha feito. E até porque o desenho preferido dele estava quase começando, e ele não queria perder.
A tudo isso o Bruno acompanhava quieto, repousando as ventas atingidas num travesseiro. Então eu disse para o Gabriel pedir desculpas, que tudo estaria resolvido. O irmão perdoava, e todos veríamos o desenho juntos.
- Tá bom, pai. Desculpa, Bruno, eu não queria te machucar.
E assim tudo ficou resolvido. Quer dizer, teria ficado, se fosse em qualquer outra casa do planeta. Mas não lá em casa. O Bruno tirou o bico, olhou bem para ele e disse:
- Não, não desculpo. - Ou dicuuupo, sei lá como ele fala esta palavra.
Como pode uma criatura de 2 anos fazer tamanha maldade? Agora foi o outro que saiu chorando para o quarto, se sentindo o ultimo dos mortais. E eu correndo atrás para acalmar. Posso jurar que antes de sair ainda vi o Bruno com um sorrisinho no rosto.
E ainda faltava uma semana para terminar as férias...

Escrito em 24/07/2009.

5 comentários:

Ado disse...

Querido,

O segundo filho é sempre mais manhoso. Ms fiquei orgulhoso pela diplomacia e tato do amigo. No meu caso, é mais difícil tamanho controle - apelo para puro terror. Exemplo...
O Pedro estava com o péssimo (e perigoso) hábito de tomar a água da piscina, não havia bronca, castigo, conversa, pedido ou chantagem que adiantaram, o "nabinha" continuava dando imensos goles. Até, em um ato de puro desespero, peguei a figura, coloquei na frente do computador, acessei o YouTube, busquei uma cena do filme ALIEN - aquela que o bicho sai da barriga de um dos infelizes da nava - e disse: "Tá vendo, esse Titio tinha acabado de tomar a água da piscina e olha o que saiu da barriga dele". Nunca mais! Ficou uns 3 dias sem dormir, mas não toma mais a água da piscina.

Ado

Romulo disse...

Poo primao!! Adorei o blog, dei boas risadas!!! Continue escrevebdo, uma abraço!!

Rômulo

Blog da Irina disse...

Eita diplomacia ... a Candida deve ter adorado ! Mas no final a gente entende q os fins justificam os meios.
Mordendo a lingua sobre o meu comentário inicial sobre o blog, tb me peguei rindo c esta ultima história, então retiro o q disse.
Histórias novas são engraçadas lendo tb.
E a quebra dos 2 pés ?
bjs
Irina

Ian disse...

Esse blog não vai ficar completo até contar - com detalhes - a história de como vc desceu as escadas do Villandry e parou dentro da casa da vizinha com... Bem, vc que conte a história.

Adorei o blog. Vc dava pra advogado, com essa redação, sabe?

Bjs,
Ian

Iúry disse...

prometo que vou me esforçar para lembrar da historia do villandry e do sapato, e contar da maneira mais convincente o possível. Mas ninguem vai acreditar, podem ter certeza.