terça-feira, 2 de março de 2010

Tudo o que Luke e Tantra sabem sobre o corpo dos meninos - Angeli

Tudo o que o Orelha sabe sobre o corpo das minas - angeli

A história do vendedor de picolés

Dia destes eu e a Viviane já começamos o sábado discutindo, antecipando um "ótimo" fim de semana.
Estávamos nos arrumando, e às crianças, para passar umas horas no parque Ramiro Ruediger, aqui pertinho de casa.
Chegando lá, fui cuidar dos bichinhos, e a Vivi foi caminhar. Tem alguma estranha lei que diz que eu tenho que sempre cuidar dos dois, e ela pode caminhar à vontade. Eu ainda não entendi bem que lei é esta, mas a vivi diz que tem.
Briga daqui, briga dali, e finalmente ela foi caminhar. Nós 3 ficamos brincando, correndo, e ao final, os dois cansados de futebol e corrida, e talvez com pena do pai à beira de um ataque cardíaco, pedem para ir ao parquinho. Lá, ficam se divertindo com outras crianças e eu, prestando atenção, apesar de que àquela hora, o sol bate de frente no nosso rosto, e fica difícil ver qualquer coisa.

Nesta hora, chega o homem vendendo picolé.

O cara já é conhecido, pára (pára tem acento - odeio a reforma ortografica) a bicicleta e ao invés de vender picolés, começa a puxar papinho. Os pais costumam comprar picolés para ver se ele se afasta logo.

O cara veio direto na minha direção, mas eu deixei e até dei trela, até porque ele ficou na frente do sol, o que foi um alívio.

- Filho é a alegria de um pai - e até foi bom que ele tenha começado por aí, pois eu vi que ele não ia falar do Hugo Chaves nem da política econômica do Henrique Meirelles num sábado de manhã.

-Ã-hã - disse eu, claramente incentivando a continuação da conversa. Quem conhece o cara sabe que qualquer coisa que não seja ameaçar com um pedaço de pau para ele é incentivo.

- Sabe que eu fui passar o natal em Natal - e deu uma risadinha, pelo jogo de palavras. Chato é o cara que conta uma piada e ri, para avisar os outros que acabou e que agora é hora de rir.

- Meu filho pagou passagem, para mim e para minha senhora, fomos de avião, foi nos pegar no aeroporto, tudo do bom e do melhor. É, filho é uma alegria.

- Meu filho é engenheiro, trabalha na Hering, lá em Natal, tem casa paga pela empresa, recebe um bom salário, já me mandou dinheiro algumas vezes, e agora nos levou para ver onde ele mora e trabalha, tudo muito bonito lá.

E a conversa ia vindo por aí, amenidades. Mas acho que ele viu que eu não estava dando muita bola, e resolveu "apimentar" um pouco a coisa. Explico:

- Meu filho tem 4 filhos, dois dele depois de casado, uma antes de ele casar. Porque ele está casado há 5 anos. Então tem os dois pequenos e a menina de 7.

Daí eu entendi que ele tinha feito uma filha na moça antes de casar. Depois decidiram casar.

- É,  interessante, né ? - eu disse, até para dar corda e não perder a sombra. Já estava ficando cansado de ele se mexer um pouquinho para cá, um pouquinho para lá, e eu ter que ficar me mexendo junto, para não perder a sombra.

- Pois é , meu filho tem um coração muito grande. Imagina que ele pegou esta mulher na rua, ela fazia programa. Daí ele teve uma filha com ela, depois casou, e agora teve mais dois filhos.

- Puxa - disse eu, e agora a sombra já não era o mais importante. Importante era a diversidade humana e o tamanho do coração do filho do homem do picolé.

- É, realmente coração muito grande, imagina que ela ainda veio com um outro filho maior junto. E o meu filho reconheceu como se fosse filho dele.

E mais não disse. Acho que viu que ali não ia vender picolé nenhum, e foi procurar outro para conversar. Ou talvez minha cara de espanto o tivesse assustado.

Quem me tirou do torpor foi a vivi, que chegou por esta hora.

Dei um grande abraço nela, um beijo na testa, pedi desculpas por hoje de manhã, e fomos procurar as crianças para ir embora.