quinta-feira, 30 de julho de 2009

Tubarões


O diretor e a mulher no cavalo

Dia destes me lembrei de um diretor que eu tinha no banco.
Certa feita fomos visitar um prospect em SP que era podre de rico, interessados em conquistar a conta corrente dele (e principalmente suas aplicações). O cavalheiro tinha um haras e havia colocado grama na quadra de tenis (inviabilizando-a) só para poder desfilar seus cavalos. Para você ver o nível.
Levou-nos a antiga quadra de tenis, porque queria nos mostrar um animal. Daqui a pouco vem um cavalo realmente muito lindo, que deixava o proprietario todo orgulhoso.
Mas ninguem prestou atenção, porque em cima do cavalo veio uma mulher muito mais maravilhosa.
O meu diretor, grosso que nem parafuso de patrola, olhou para o cara e disparou:
- Essa aí eu começava lambendo pelo cavalo.
E o proprietario:
- É a minha filha, Isabel Cristina.
Desnecessário dizer que nao levamos a conta.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Barranqueando


Bati o carro

Semana passada bati o carro. Quer dizer: bati, não, bateram em mim. Mas a culpa foi minha. Atravessei na frente do cara, que não conseguiu parar e me atingiu.
Eu tinha ido buscar o Bruno na escolinha, prendi ele bem certinho na cadeira e na volta para casa enfrentei um engarrafamento. Era um final de tarde chuvoso, já estava escuro, e eu resolvi fazer o retorno e tentar outro caminho. Fiquei controlando os carros que vinham no sentido contrário pela luz dos faróis, já que não dava visibilidade. Na primeira hora que não veio luz nenhuma, eu toquei.
E de lá vinha o chevetão de luz apagada, para economizar.
Ainda tentei acelerar, para ver se escapava, e ele até tentou frear, mas não adiantou. Atingiu minha roda traseira direita, e adjacências.
Foi tudo muito devagar, eu estava parado e depois arrancando. A batida aconteceu mais porque estava chovendo. E claro, porque sendo eu, o que vinha do outro lado era uma cheveta quase sem freio.
Parei, perguntei se o Bruno estava bem, e saí para ver o estrago. Enquanto eu ia até o outro carro, já preocupado porque o outro motorista demorava a sair, fui ficando preocupado, e já pensando para quem ligar. E neste meio tempo olhei para os caras que estavam na fila. A mesma fila que eu havia tentado evitar. Todos estavam com aquele sorrisinho de “bem-feito” e “Quem mandou ter pressa” no rosto.
Daí abre a porta do Chevette e sai o cara. Parecia historia em quadrinhos: o cara já saiu do carro de muletas. Juro. Imagina a cena. Até os caras da outra fila, que inicialmente ficaram rindo de mim, acho que ficaram com pena. Pelo menos pararam de rir.
Depois das apresentações o Vilimar (não perguntem. Dirigindo um chevete vocês queriam o que? – Pierre?) me explicou que havia sofrido um acidente de moto há 2 anos e meio atrás, e que tinha quebrado a coluna em 4 lugares, e estava encostado no INSS.
Ninguém se machucou, liga para o corretor, explica para o cara que tem seguro total, a outra fila andou, os palhaços da risadinha foram embora. E agora, faz o que?
Ligamos para o departamento transito, que explicou que por causa da chuva inúmeros acidentes haviam ocorrido, e que esperar no local para fazer B.O. poderia demorar mais do que 3 horas, mas que não havendo vitimas, nem ninguém alcoolizado, e principalmente se ambos concordavam como tinha ocorrido o acidente, poderíamos fazer o boletim no dia seguinte, direto no departamento de trânsito, com ambos os motoristas e veículos presentes.
O carro dele não andava, a roda havia ficado presa, mas para abreviar a historia, ele ligou para o pai vir desamassar um pouco o carro, para poder ir embora, e eu deixei o cara lá mesmo, já preocupado com o Bruno sozinho tanto tempo no carro.
No dia seguinte, fiquei em casa esperando ele ligar quando chegasse no transito, já que eu moro muito mais perto. Daqui a pouco liga o Vilimar:
- Seu Iury, o Sr não vai acreditar: Fui parado numa blitz pela policia e o guarda não deixa eu seguir, porque meu carro tá sem placa e sem pára-choque. Vão rebocar.
Tentei argumentar por telefone, dizendo que ele estava saindo de casa sem pára-choque por causa do acidente , e exatamente por orientação da guarda, estávamos nos dirigindo para o depto de transito para registrar a ocorrência, mas não teve argumento.
Pedi para o cara esperar por lá e liguei para a PM. Expliquei todo o problema para o atendente no 190. Levou bem uns 10 minutos, e eu estava preocupado, porque iriam guinchar o carro do cara, agora vitima duas vezes. Por incrível que pareça, o guarda concordou comigo. Disse que era muita coincidência, mas, face ao ocorrido, iria interceder.
- Em qual blitz ele foi pego? Qual a localização ?
Expliquei a rua, e era próximo do que, etc...
- Mas Sr, não há nenhuma blitz da PM nesta região.
Ligo novamente para o Vilimar. Pelo telefone, identifico pela farda que não era a PM, mas sim a própria Guarda de Trânsito. Bronca no infeliz, que não era capaz de identificar qual a policia que o havia grampeado, isso com 20 anos na cara.
Toca ligar para a chefia da Guarda de Transito, explica tudo de novo. Neste meio tempo o infeliz já tinha ligado umas 4 vezes dizendo que tinham pego os seus documentos, xingado a mãe, estavam começando a rebocar o carro, tudo o que era possível. E eu tentando acalmar o cara.
O chefe da guarda também entende nossa situação, passa um rádio e libera o chevettao.
Quinze minutos depois nos encontramos na sede da Guarda. Agradecemos o chefe que nos liberou e fizemos o tal boletim de ocorrência.
Tudo certo, tudo bonito, cada um com sua cópia, deixei o telefone da seguradora para ele ligar e se identificar, solicitando conserto.
- Tudo bem então, Vilimar, tudo tranqüilo, vamos embora ?
- tudo bem, seu Iury, mas o Sr pode me fazer um favorzinho ?
Devo ter olhado meio torto para ele, que meio se abaixou e continuou:
- O Sr poderia me dar uma carona até o chaveiro? Porque no nervosismo fechei o carro com a chave dentro, e o Sr sabe, Né? Carro velho bate com a chave dentro e ele tranca.
Não consegui resistir:
- vai te benzer, Vilimar, por favor vai te benzer.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Angeli - Constrangimentos


O café e o beijo

Hoje é meu aniversário, e fui tomar um café numa padoca no centro, perto do meu antigo local de trabalho. Vontade de encontrar os antigos colegas, e ser cumprimentado, talvez.
Estava ainda sozinho, esperando chegar meu café, quando senti aquele cheiro insuportável de cigarro. Dá para acreditar que tinha alguém fumando dentro do boteco?
Como estava um pouco longe do gerente, que estava no caixa, tentei fazer a reclamação por mímica. Juntei os dedos diante da boca e tirei, simbolizando o ato de quem fuma. Minha intenção era alertá-lo para que observasse quem estava fumando no estabelecimento e removesse o cara imediatamente.
Ele olhou para um lado, olhou para o outro, como para se certificar que ninguém estava olhando, colocou dois dedos diante da boca, e me jogou UM BEIJO.
Ele achou que eu estava mandando um beijo para ele, e me devolveu o beijo.
Ninguém merece.
Pior foi que veio acompanhado de uma piscadinha.
E agora, o que é que eu faço? Ou passo pelo constrangimento de dizer para ele que minha intenção era outra, e crio uma enorme saia justa, ou passo por viado.
Que café, que nada.
Simulei que estava recebendo uma ligação no celular e saí do café falando alto. E pisando firme, por via das dúvidas.
Na saída passei por ele, ainda com o telefone no ouvido e mandei: "tem alguém fumando por aqui, né? que ruim" e fui me embora.
Preciso achar outro lugar para tomar café no centro.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Saindo de casa

O Gabriel deu um pau no Buuuno.
Nada de novo, cá entre nós. E que a Vivi não nos ouça, ele provavelmente mereceu.
Impressionante como este baixinho provoca. O Buuuno, que se apresenta desta maneira porque ainda não sabe falar os R, aproveita a impunidade que a pouca idade lhe dá (falsa, como vimos pelo pau que levou) e provoca tudo o que pode. Chora por qualquer coisa que o Gabriel pense em fazer. E nós, que sempre temos medo que o Gabriel machuque o menorzinho, já chegamos brigando, sem nem ao menos ver o que aconteceu.
Qualquer brinquedo que o Gabo pega, passa imediatamente a ser o foco do seu interesse, e ele chora até ganhar o que quer. Impressionante a manha. Já batemos, colocamos de castigo, privamos de lanches, etc... Chegamos até a pedir. Nada faz efeito.
Desta vez ele pegou um brinquedo que o Gabriel estava usando. O Gabriel até tentou, mas quando viu que não adiantava, usou de diplomacia: levantou o bruno do chão e jogou na parede, do outro lado do quarto. O que ele não imaginava é que o Bruno bateu com o nariz no chão, e sangrou.
Cinco minutos de berreiro depois, eu JÁ fui ver. The flash é meu nome do meio. Cheguei lá e vi a imagem que vai demorar para se apagar: o Bruno no chão, sangrando pelo nariz, poça de sangue no chão, chorando desbragadamente. E o Gabriel colado na parede oposta, branco que nem lençol de hospital.
Peguei o Bruno do chão, acalmei, limpei o sangue, coloquei na frente da TV para descansar, e neste meio tempo reclamei com o Gabriel, dizendo para ele cuidar, não bater no irmão, estas coisas. Internamente achava que o pequenininho tinha merecido apanhar, e que a justiça tinha sido finalmente feita. Mas fiquei firme, mantive minha postura de pai. Minha mulher podia se orgulhar de mim.
Fiquei na sala, acalmando a vítima, e me esqueci do agressor. Cinco minutos depois aparece ele, com a mochila nas costas, dizendo que face o ocorrido tinha resolvido sair de casa.
Me segurei ao máximo para não rir, e disse que não tinha sido tão ruim assim, que entre irmãos estas coisas aconteciam, para ele cuidar porque ele é mais forte que o irmão, etc... Pedi para ver a mochila: tinha um walkman (ultimo brinquedo ganho) e o cofrinho, quase cheio. Nem uma única muda de roupa.
Mais meia hora de sermão explicando que não é assim que se resolvem as coisas, não devemos fugir dos problemas (pelo menos não nesta idade), e que se fosse o caso, deveria pelo menos levar algumas roupas, e uma volta de lingüiça, para o caso de dar fome no caminho. E depois, para onde ele iria?
Ele disse que realmente não tinha para onde ir, e que também preferia não fugir, mas se sentiu amedrontado pelo que tinha feito. E até porque o desenho preferido dele estava quase começando, e ele não queria perder.
A tudo isso o Bruno acompanhava quieto, repousando as ventas atingidas num travesseiro. Então eu disse para o Gabriel pedir desculpas, que tudo estaria resolvido. O irmão perdoava, e todos veríamos o desenho juntos.
- Tá bom, pai. Desculpa, Bruno, eu não queria te machucar.
E assim tudo ficou resolvido. Quer dizer, teria ficado, se fosse em qualquer outra casa do planeta. Mas não lá em casa. O Bruno tirou o bico, olhou bem para ele e disse:
- Não, não desculpo. - Ou dicuuupo, sei lá como ele fala esta palavra.
Como pode uma criatura de 2 anos fazer tamanha maldade? Agora foi o outro que saiu chorando para o quarto, se sentindo o ultimo dos mortais. E eu correndo atrás para acalmar. Posso jurar que antes de sair ainda vi o Bruno com um sorrisinho no rosto.
E ainda faltava uma semana para terminar as férias...

Escrito em 24/07/2009.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Gabo e o Super homem

O Gabriel queria saber quem é a mulher do super homem.
- É a mulher maravilha - disparei.
- Nããão, pai. Claro que não. É uma que trabalha com ele.

Daí lembrei da Lois Lane, falei que era repórter, trabalhava no Planeta Diário junto com ele, e que num dos filmes do Super Homem, eles casaram.

- E ela tem os mesmos superpoderes que ele ?
- Não
Venho tentando fazer respostas não muito elaboradas, para não dar margem para mais perguntas, mas nem sempre funciona:
- porque não?
- ora, gabo. Não é porque ela casou com o super homem, que tem que ter os superpoderes dele. Veja o papai e a mamãe. O papai casou com a mamãe, mas nem por isso tem cabelo. A mamãe tem cabelo, e o papai é careca.
- Ahn, tá. – disse ele, claramente insatisfeito, principalmente com a diminuição do nível do debate.
– papai, a gente vai para casa da vovó neste final de semana ?
- Acho que vamos, porque? Não quer mais saber do super homem ?
- não, não, deixa para lá. Depois eu pergunto para a professora. Você não entende destas coisas.

Difícil, muito difícil.

escrito originalmente em 29/08/2008, thanks to ado

Aquela do cano estourado

Sempre achei válido adquirir conhecimento em outras áreas. Não é interessante quando você assiste a um filme sobre astronomia e no final, sai sabendo mais sobre o assunto? Ou naquelas séries sobre hospital, não é interessante como que você sempre aprende alguma coisa sobre técnicas de primeiros socorros ?
Existem coisas em que o mais importante é vivenciar na prática, como aprender a dirigir, por exemplo. Por mais que se veja outras pessoas fazendo, você nunca irá aprender realmente se não praticar. Dizem que jogar truco é outra delas. Não sei, mas deve ser verdade, porque por mais que eu olhe, não consigo aprender. Talvez “aprender fazendo” seja a expressão que mais se adapta a estas atividades. Gostaria de informar a todos os meus 17 leitores que serviços hidráulicos com certeza não é uma destas atividades.
Em relação a serviços hidráulicos, sugiro veementemente que você primeiro chame um encanador, e depois analise muito bem a maneira como ele faz o serviço, para somente na próxima vez, chamar o encanador de novo. Porque quanto mais eu me aventuro por estas plagas, mas me convenço que é serviço de profissional.
Se você faz um serviço elétrico, é só isolar com fita e pronto. Via de regra os fios não ficam aparentes e ninguém fica o tempo inteiro tocando em uma lâmpada para ver se ela está bem isolada. Já num encanamento, se você aperta pouco fica vazando, se aperta muito, pode estourar a rosca, e daí a lambança está feita. E se ficar pingando e você não notar, no dia seguinte o seu banheiro vai estar inundado, e antes de chamar o encanador (que é o que você deveria ter feito desde o começo), você precisa instalar uma eclusa, para pelo menos desviar o curso da água.
Ontem mesmo, quando estava de banho tomado, pronto para ir dar aulas, já na saída de casa, descobri que nosso aquecedor à gás estava funcionando. Sozinho em casa, brilhantemente deduzi que deveria ser um defeito, mas onde ? Utilizando-me do eficiente método do caminho inverso, tomei o aquecedor como ponto de partida e saí seguindo o encanamento casa afora para tentar descobrir para onde ia aquela água toda.
Descobri que foi no banheiro do meu filho, não sei se por instinto, ou se porque meu pé fez plosh logo que passei pelo corredor dos quartos. Abri a porta do quarto com a emoção inversa a do Figueiredo, quando abriu a primeira comporta de Itaipu, mas provavelmente com o mesmo efeito. Senti que qualquer outra atividade como dar aulas estava definitivamente excluída naquela noite no exato momento que um patinho de borracha passou por mim, eufórico por descobrir novos horizontes além da tradicional banheira.
Não sei se o pavor era maior por ver o estrago que aquela enormidade de água estava fazendo ou se por entender que aquela água era quente, e portanto, eu ainda por cima estava gastando gás com aquilo e busquei rapidamente fechar algum registro para tentar estancar o prejuízo.
Lição número dois: não corra em piso molhado. Não “busque rapidamente” em piso molhado. Não faça nada muito rápido em piso molhado. Meu tombo só não foi completo, porque eu tive o azar de estatelar em cima do referido pato, que por sinal desta vez não me pareceu tão eufórico assim.
Quando eu vi a quantidade de água que estava vindo por dentro do armarinho do banheiro, vi que o cano da água quente debaixo da pia tinha rompido e o primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi a figura daquele garotinho com o dedo enfiado numa rachadura de um dique holandês. O segundo pensamento foi em quanto tempo minha esposa demoraria para chegar em casa e me encontrar com dedo enfiado na parede, provavelmente chorando.
Vazamento estancado, barragem com panos e toalhas formada, comecei a identificar quais peças seriam necessárias para consertar aquilo. O meu subconsciente insistia em repetir que a única peça necessária naquele momento era o telefone, para chamar o encanador. Até cheguei a ligar para ele, mas naquela hora meu instinto de macho falou mais alto, e só o que fiz foi perguntar-lhe o que deveria fazer, aproveitando obviamente para deixa-lo de sobreaviso, achando que no fundo daria conta de tudo. Porque é público e notório que o ser humano do sexo masculino fica tanto mais bobo quanto maior a quantidade de ferramentas que tem em casa. É uma grandeza diretamente proporcional. Portador de uma senhora caixa de ferramentas, julguei ter tudo o que fosse necessário para corrigir o defeito. Meia hora depois, cheguei a algumas conclusões: primeiro que não tinha todas as peças necessárias para executar o trabalho, depois que às 18:15 hs., todas as lojas de materiais de construção de Blumenau já estariam fechadas, conclui também que nenhum encanador me atenderia mais àquela hora. e finalmente, conclui que não era mais tão macho assim.
Resignado, fui procurar algum tipo de tampão, para pelo menos tapar o buraco na parede, e isolar aquela torneira, permitindo que eu tomasse um banho quente mais tarde. Impressionante, nenhum supermercado tem para vender esta peça tão básica. Eles tem ralo, registro, reparo, mas esta tampa rosqueável não. Moral da história, comprei uma torneira de plástico que encaixasse naquela bitola e tapei a tal saída com uma torneira. Eu devo ser o único cara que teve, por uma noite, uma torneira dentro do armário do banheiro. Na manhã seguinte, humildemente recebi o encanador. Pior não foi pagar por uma hora de trabalho, pior foi agüentar por uma hora com aquele sorrisinho irônico.

escrito originalmente em 12/09/2004

Aquela do seguro errado

Esta não é mais uma história para rir, mesmo porque acho que já perdi minha verve artística, se é que já tive uma. Só o que fiz até então foi retratar episódios interessantes (e obviamente engraçados) que ocorrem comigo vez por outra.
Desta vez aproveitei o início de ano, período de aparente calmaria, para colocar em dia algumas coisas. Comecei pelo carro.
Quero ressaltar desde já que não sou maníaco por carros, como tantos por aí. Não chego a absurdos, como lavar eu mesmo, por exemplo. Só mando lavar mesmo quando identifico alguma cultura estranha pelos cantos. O carro existe para me servir, e não eu para servi-lo.
Conheci um cara que após lavar o carro, engraxava as partes pretas do motor, com graxa de sapatos mesmo. Imagino a turma no bar, falando sobre filmes que viu, livros que leu, e o cara lá, quietão. Daí quando chega a vez dele, ele enche o peito e dispara: "mas vocês tem que ver o brilho da tampa do meu filtro de ar". E da reação da turma dá para tirar um tratado sociológico.
Mas voltando ao caso do carro, comecei pelo seguro. Sempre confiei nos meus corretores, e já passei mal algumas vezes por isto, mas eu não aprendo. Fui ler a apólice, já imaginando quem é que ainda faz uma coisa destas hoje em dia, e me deparei com coisas de cair o queixo. Segue abaixo síntese da carta que enviei a companhia seguradora:


Prezados senhores,

Ao revisar minha apólice de seguros referente ao meu veículo Santana, surpreendi-me com alguns fatos que não condizem com a realidade e que gostaria de ver corrigidos com a maior urgência.
1.- o número do chassis está incorreto. De acordo com os documentos emitidos pelo órgão competente, o número é 9BWZZZ237... e não 9BWZZZ327... Um simples erro de digitação, trocando o 23 pelo 32, mas que creio iria me atrapalhar muito em caso de sinistro. Com todos estes casos de adulteração de chassis que existem por aí, não quero que confundam logo o meu com um cabrito. (análise semântica sobre o uso da palavra "cabrito" para designar veículos montados em chassis que não o seu próprio, em carta anexa)
2.- Da mesma forma, o número do Renavam não condiz com o descrito no DUT. Favor corrigir de 3228... para 3328. Novamente um pequeno erro de seu não tão atento digitador.
3.- O veículo não permanece durante o dia em estacionamento coberto, mas sim somente à noite. Olha o digitador aí de novo.
4.- O endereço de minha residência não é rua XV de Novembro 123, sala 1933. Não está nos meus planos residir numa sala, quanto mais num edifício comercial no centro de Blumenau. Aliás, se repararem bem, este é o SEU endereço. Com certeza não estou desconfiando que Vs. Sas. tenham colocado vosso endereço para receber indenização que se destinaria à minha família, no caso de eventual sinistro, mas creio que o digitador já referido nos itens anteriores deveria, no mínimo, perder o bônus de final de ano.
5.- O veículo em questão é preto, e não branco, conforme consta em vossa apólice. E aí vai um comentário muito grave. Pois agora ou colocamos o digitador num tronco em praça pública e lhe aplicamos o devido corretivo, ou incluímos na análise o vistoriador, condição esta que talvez até mesmo isente de culpa nosso amigo digitador, este injustiçado.
Quando me preparava para escrever o item 6, já transformando a carta num tratado, me deparei com um fato. Sempre tive ótima memória para números e combinações entre números e letras, e assim que comprei o carro, decorei a placa facilmente. As letras eram LYI. I e Y são letras que compõe meu nome, então ficava fácil. Um dia, ao entrar em um estacionamento, o atendente me pergunta a placa e eu repeti o LYI alguma coisa. Ao estacionar o carro, o rapaz me seguiu e me entregou outro ticket, dizendo que a placa na verdade era LYT. Juro que desci do carro para ver. Afinal, estava perdendo uma de minhas únicas qualidades, além daquela de torcer pelo Palmeiras.
Pois agora, na apólice da companhia, voltava o LYI. Fui rápido conferir o documento, e desta vez a seguradora estava correta. Era LYI mesmo. O que me trouxe um problema muito maior, afinal, estava andando com a placa errada.
Dirigi-me a empresa que confeccionou a placa, disse que sempre houvera sido (hein, hein?) cliente deles, e pedi para que conferissem a data da confecção da placa, onde certamente identificariam o erro.
Setembro de 2003. Há 2 anos e meio venho andando com a placa errada. Não há careca respeitável (como a minha) que justifique isto numa blitz.
Correções feitas, placa nova, documentos ok, apólice corrigida, desfilo agora pelas ruas com disposição redobrada para enfrentar os guardas. Quando pressinto a presença de alguma blitz, chego até a mudar de rua, me esforçando para ser parado. Dias desses, abri a janela e cheguei a perguntar para o guarda: “o sr. me mandou parar?” Recebi de resposta um olhar enviesado e uma ordem para que seguisse. Mas deixe estar. Se, contrariando todas as leis de Murphy, passei estes últimos 2 anos completamente ilegal e nada me aconteceu, há de chegar o dia em que serei intimado a parar e apresentar meus documentos;
E vou estar preparado, ah se vou.

escrito originalmente em 12/09/2004

Tomando banho com o Gabo

Quem tem filhos pequenos sabe que uma regra básica é não responder mais do que aquilo que eles efetivamente perguntaram. Para evitar que ele pergunte sobre sexo, você desfie todo o rosário das abelhinhas, e depois ele venha dizer que achou que sexo era feminino e masculino. Você fica com cara de bobo porque respondeu mais do que ele pediu e provavelmente deu mais informação do que ele precisava.
Sempre que não estou dando aulas e tenho as noites livres, fico encarregado do banho do Gabriel, meu filho de 5 anos. E normalmente é uma aventura. Resumo do banho de ontem:
- pai, minhas bolinhas estão aqui no meu saco.
- ahn, err..., as minhas também filho.
- sabe o que tem aqui dentro?
- não filho, não sei. O que é?
Dez segundos de silencio. Na ótica dele. Na minha, foram bem uns 15 minutos.
- tem pessoinhas pequenas, iguais a mim, esbarrando que nem carrinho de choque.
Fiquei feliz de que naquele momento eu estava no banho, nu, e sem carteira. Porque se estivesse com minha carteira teria dado imediatamente todo o dinheiro para ele comprar qualquer coisa e desaparecer dali.
- pessoinhas, gabo?
- é, pessoinhas iguais a mim, que depois vão nascer e ficar parecidas comigo.
Tentei reverter a situação, fazendo algum comentário inteligente, afinal, eu era o pai. E ele tinha só cinco anos, não podia ficar por cima. Imagina quando ficar mais velho, e começar a querer mostrar que é mais inteligente. Com 7, por exemplo
- É, eu também tenho pessoinhas parecidas comigo aqui, tanto que você é uma, que nasceu bem parecido comigo.
Pela cara de espanto que ele fez, acho que ainda não tinha ligado os pontos. Aquilo foi como mostrar para ele o terceiro segredo de Fátima. Me apavorei, tinha quebrado uma regra básica: respondi mais do que ele perguntou. Mas mantive a calma
Naquela situação, eu já estava pensando em cancelar a tv a cabo, a Internet, tirar ele do colégio, e viver como amish em Iowa, mas ele não teve misericórdia:
- Mas isto não é para esta fase, só para a próxima.
- qual próxima fase?
- adolescência, pai.
E como eu estivesse parecendo que tinha visto um ET, completou:
- Adolescência, quando a gente usa brinco.
Sai do banheiro molhado mesmo e chamei a mãe dele para acabar o banho.Me encontraram depois, na sala, com um copo de whisky na mão, e ainda enrolado na toalha.

escrito originalmente em 31/07/2008.

gabo e o Van Gogh

Jogando futebol no corredor, bati com o pé na parede e machuquei, chegando a sangrar.

Pergunta do gabriel:
- machucou?
- claro que machucou - eu disse - chegou a sangrar, olha só.
- isso não é nada
- pô, gabriel, sangrou, tá doendo, não tá vendo?
- pior foi o van gogh, que cortou a orelha.

Aquilo sim doeu. Doeu mais do que o pé.

Afinal, o que era a minha dor perto de arrancar uma orelha?

Queria saber quem é o insensível que ensina estas coisas para crianças de 5 anos.