quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aquela do cano estourado

Sempre achei válido adquirir conhecimento em outras áreas. Não é interessante quando você assiste a um filme sobre astronomia e no final, sai sabendo mais sobre o assunto? Ou naquelas séries sobre hospital, não é interessante como que você sempre aprende alguma coisa sobre técnicas de primeiros socorros ?
Existem coisas em que o mais importante é vivenciar na prática, como aprender a dirigir, por exemplo. Por mais que se veja outras pessoas fazendo, você nunca irá aprender realmente se não praticar. Dizem que jogar truco é outra delas. Não sei, mas deve ser verdade, porque por mais que eu olhe, não consigo aprender. Talvez “aprender fazendo” seja a expressão que mais se adapta a estas atividades. Gostaria de informar a todos os meus 17 leitores que serviços hidráulicos com certeza não é uma destas atividades.
Em relação a serviços hidráulicos, sugiro veementemente que você primeiro chame um encanador, e depois analise muito bem a maneira como ele faz o serviço, para somente na próxima vez, chamar o encanador de novo. Porque quanto mais eu me aventuro por estas plagas, mas me convenço que é serviço de profissional.
Se você faz um serviço elétrico, é só isolar com fita e pronto. Via de regra os fios não ficam aparentes e ninguém fica o tempo inteiro tocando em uma lâmpada para ver se ela está bem isolada. Já num encanamento, se você aperta pouco fica vazando, se aperta muito, pode estourar a rosca, e daí a lambança está feita. E se ficar pingando e você não notar, no dia seguinte o seu banheiro vai estar inundado, e antes de chamar o encanador (que é o que você deveria ter feito desde o começo), você precisa instalar uma eclusa, para pelo menos desviar o curso da água.
Ontem mesmo, quando estava de banho tomado, pronto para ir dar aulas, já na saída de casa, descobri que nosso aquecedor à gás estava funcionando. Sozinho em casa, brilhantemente deduzi que deveria ser um defeito, mas onde ? Utilizando-me do eficiente método do caminho inverso, tomei o aquecedor como ponto de partida e saí seguindo o encanamento casa afora para tentar descobrir para onde ia aquela água toda.
Descobri que foi no banheiro do meu filho, não sei se por instinto, ou se porque meu pé fez plosh logo que passei pelo corredor dos quartos. Abri a porta do quarto com a emoção inversa a do Figueiredo, quando abriu a primeira comporta de Itaipu, mas provavelmente com o mesmo efeito. Senti que qualquer outra atividade como dar aulas estava definitivamente excluída naquela noite no exato momento que um patinho de borracha passou por mim, eufórico por descobrir novos horizontes além da tradicional banheira.
Não sei se o pavor era maior por ver o estrago que aquela enormidade de água estava fazendo ou se por entender que aquela água era quente, e portanto, eu ainda por cima estava gastando gás com aquilo e busquei rapidamente fechar algum registro para tentar estancar o prejuízo.
Lição número dois: não corra em piso molhado. Não “busque rapidamente” em piso molhado. Não faça nada muito rápido em piso molhado. Meu tombo só não foi completo, porque eu tive o azar de estatelar em cima do referido pato, que por sinal desta vez não me pareceu tão eufórico assim.
Quando eu vi a quantidade de água que estava vindo por dentro do armarinho do banheiro, vi que o cano da água quente debaixo da pia tinha rompido e o primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi a figura daquele garotinho com o dedo enfiado numa rachadura de um dique holandês. O segundo pensamento foi em quanto tempo minha esposa demoraria para chegar em casa e me encontrar com dedo enfiado na parede, provavelmente chorando.
Vazamento estancado, barragem com panos e toalhas formada, comecei a identificar quais peças seriam necessárias para consertar aquilo. O meu subconsciente insistia em repetir que a única peça necessária naquele momento era o telefone, para chamar o encanador. Até cheguei a ligar para ele, mas naquela hora meu instinto de macho falou mais alto, e só o que fiz foi perguntar-lhe o que deveria fazer, aproveitando obviamente para deixa-lo de sobreaviso, achando que no fundo daria conta de tudo. Porque é público e notório que o ser humano do sexo masculino fica tanto mais bobo quanto maior a quantidade de ferramentas que tem em casa. É uma grandeza diretamente proporcional. Portador de uma senhora caixa de ferramentas, julguei ter tudo o que fosse necessário para corrigir o defeito. Meia hora depois, cheguei a algumas conclusões: primeiro que não tinha todas as peças necessárias para executar o trabalho, depois que às 18:15 hs., todas as lojas de materiais de construção de Blumenau já estariam fechadas, conclui também que nenhum encanador me atenderia mais àquela hora. e finalmente, conclui que não era mais tão macho assim.
Resignado, fui procurar algum tipo de tampão, para pelo menos tapar o buraco na parede, e isolar aquela torneira, permitindo que eu tomasse um banho quente mais tarde. Impressionante, nenhum supermercado tem para vender esta peça tão básica. Eles tem ralo, registro, reparo, mas esta tampa rosqueável não. Moral da história, comprei uma torneira de plástico que encaixasse naquela bitola e tapei a tal saída com uma torneira. Eu devo ser o único cara que teve, por uma noite, uma torneira dentro do armário do banheiro. Na manhã seguinte, humildemente recebi o encanador. Pior não foi pagar por uma hora de trabalho, pior foi agüentar por uma hora com aquele sorrisinho irônico.

escrito originalmente em 12/09/2004

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